Os estudos sobre o reequipamento da FAB vêm do tempo do Governo Sarney.
No período Fernando Henrique Cardoso, houve quem acreditasse que — enfim! — a Força Aérea Brasileira teria aviões capazes de assegurar a defesa do território em condições de igualdade com, pelo menos, as forças aéreas de seus vizinhos.
A esperança morreu com o primeiro Governo Lula da Silva, renasceu no segundo termo de seu longo mandato, para, finalmente, ser sepultada, sem honras militares, no início do Governo Dilma Rousseff.
O motivo sempre alegado para a opinião pública e para as empresas e Governos estrangeiros que se habilitaram às tantas concorrências que foram abertas é sempre o mesmo: não é possível, neste País tão necessitado de pão, pensar-se em canhões.
Ocorre que, neste país, a necessidade de pão dos muitos muitas vezes se confunde com um apetite de alguns por torradas com manteiga — o que nos permite lembrar de que “manteiga versus canhões” era a palavra de ordem com que se combatiam os esforços de rearmamento dos países democráticos antes da Segunda Guerra Mundial que encontrou os Estados Unidos com um exército de pouco mais, se tanto, de 200 mil homens.
Muitos dos que me honram com a leitura de meus textos têm explicação (que muitos considerariam conspirativa) para o que acontece não apenas com a FAB, mas com todas as Forças Armadas nacionais: o que se pretende, simplesmente, é desmobilizá-las, retirar delas o papel político que tiveram desde o Império, fazendo que sejam apenas um “adereço armado” no colar dos órgãos que, em tese, sustentam o Estado.
Deveríamos ir mais longe nesta linha de raciocínio. Não estamos apenas diante de um programa − e insisto na palavra “programa” – levado avante pelos que, infiltrados no PT e no governo, pretendem acabar com as Forças Armadas. Esses “xiitas” não são os únicos responsáveis pela desmobilização das Forças Armadas. Afinal, não foram o PT e seus “xiitas” que votaram a Constituição de 1988, que traçou as linhas mestras da desmobilização. Eles até que votaram contra. A maioria esmagadora do Congresso-Constituinte, em que toda a sociedade estava representada, foi quem a votou.
Os “xiitas” sem dúvida esforçam-se, no entanto, para fazer que largas camadas da população vejam nas Forças Armadas apenas uma “polícia extraordinária” (para intervir nos morros do Rio de Janeiro) ou o aguadeiro a dar de beber às populações afetadas pela seca ou o distribuidor de cestas básicas. Isso tudo é evidente.
Não basta isso, porém, para compreendermos por que, não apenas, mas especialmente a partir do Governo Lula da Silva, venha-se colocando tanto empenho em utilizar as Forças Armadas em tarefas eminentemente civis e empresariais, ao mesmo tempo − atenção! − que o Brasil se compromete mais e mais no plano internacional, esforçando-se para fornecer tropa para cumprir missões da ONU em países que atravessam situação de crise interna capaz de ameaçar a tranqüilidade regional ou internacional. Nem nos desvenda, esta referência aos “xiitas”, o que de grave para o Estado brasileiro significa essa política de desmobilização interna e comprometimento externo.
O bom observador da cena político-institucional verá que, na sociedade brasileira, há muitos grupos — os intelectuais de estilo prêt-à-porter ocupando neles lugar de destaque — que consideram totalmente desnecessária a existência do Exército, da Marinha e da Aeronáutica enquanto instituições com função de participar da elaboração e da execução da grande estratégia nacional. Para esses grupos, as Forças Armadas deveriam servir apenas de instrumentos da chamada Defesa Civil, distribuindo água no Nordeste, acudindo populações vítimas de catástrofes naturais ou, então, o que é pior, dos pontos de vista moral e social, fazendo as vezes de um novo tipo de “exército industrial de reserva”, dedicado, a baixo custo, a construir estradas, fazer a terraplanagem para pistas de pouso em aeroportos civis ou abrir os canais para a transposição do rio São Francisco.
A transformação das Forças Armadas em “exército industrial de reserva” é apenas um dos dados do problema. Sem dúvida, a insistência neste programa levará à transformação delas em uma “Empresa Nacional de Socorros Gerais Ltda”. Obedece, sem dúvida, como querem amigos meus e eu concordo, a um programa, mas serve também a outros propósitos: serve para que o Governo se apresente como um “pai de todos” (agora, uma “mãe de todos”) acusando com seu dedo “fura bolo” em riste as empresas privadas de não colaborar com sua política de emprego e redução do déficit público, e para, aos poucos, introduzir na mente dos Oficiais e Praças a idéia-força de que estão prestando um serviço essencial à Nação e, portanto, não precisam mais se angustiar perguntando-se “existimos para quê?”.
Da perspectiva do Estado, que é a que me interessa antes de tudo, esse programa tem uma conseqüência à qual poucos prestaram atenção − e diria até que os “xiitas” talvez não tenham sido capazes de a ela atentar, preocupados que estão com desmobilizar as Forças e, ao mesmo tempo, desvincular a política externa brasileira de qualquer dos legítimos objetivos do Estado Nacional.
O resultado da política de desmobilização somada à ambição por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas mais o desejo de desempenhar tarefas para as quais a ONU requer a colaboração dos Estados-membros é — insisto! — que o Brasil se transforma, lenta e seguramente, em um Estado garante da Globalização, ou seja, conforme melhor denominei em textos anteriores, em um “sipaio” da globalização — lembrando, em tempo, que “sipaio” é o nome dado ao soldado natural da Índia colonizada que se colocava a serviço dos ingleses
Voltarei ao assunto.
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