POLÍTICOS E SECA – MAS O DEPOIS?

OESP  

 

     Admitamos que sejam confiáveis as informações contidas na pesquisa feita por Francisco Whitaker para a CNBB, e seja verdadeiro que, em 98% dos municípios brasileiros, pelo menos um dos candidatos a Prefeito tenha comprado votos em troca de cestas básicas, dentaduras, dinheiro ou outros favores. Admitamos que o Ministro Ilmar Galvão, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tenha expressado a triste realidade institucional ao dizer que a Justiça Eleitoral não tem como fiscalizar os pleitos nem punir os crimes eleitorais. Não será necessário admitir, mas apenas lembrar, que apesar disso, o Congresso Nacional foi obrigado a anistiar um de seus mais ilustres membros, condenado por crime eleitoral à perda do mandato, e todos os congressistas que tivessem cometido o mesmo delito.  

 

    Admitamos que o General Nilton Moreira Rodrigues, ex-superintendente da Sudene, na entrevista que O Estado publicou quarta-feira, tenha dito a verdade ao declarar que o Prefeito de uma cidade de Pernambuco incentivou o saque a depósitos de alimentos para receber verbas federais, e seja verdadeira sua afirmação de que é uma tradição no Nordeste o uso da seca como argumento para obtenção de verbas federais – não de votos, ressalte-se. Admitamos, também, que seja verdadeira sua afirmação, segundo a qual técnicos do próprio Governo lamentam a demora na tomada de decisões em Brasília. Admitamos como verdadeira a afirmação do bispo de Afogados de Ingazeira, em Pernambuco, publicada no Globo também de quarta-feira – e aliás, concordando em gênero com as palavras do General -, segundo a qual o Governo e os políticos do Nordeste criaram a política da seca para se manter no poder às custas da compra dos votos dos miseráveis (cito textualmente o jornal). O que não se pode admitir, por não ter relação lógica com o que veio antes, é que, em seguida, S. Ema. Revma. tenha declarado: ” O governo e os políticos se interessam pela morte dos miseráveis, por uma questão demográfica, para que haja menos gente.” Ora, se os políticos consideram a seca uma boa coisa porque barateia os votos, não se entende porque queiram matar os miseráveis de fome. Afinal, no dia em que eles tiverem desaparecido, só restarão os que não são miseráveis e não vendem seu voto.  

 

    Essas são as coisas que podemos admitir, ressalvada a escorregadela lógica – que o bispo diz ser de responsabilidade de um político famoso, cujo nome ele não quis revelar, embora devesse fazê-lo, pois o indigitado cavalheiro estava confessando ter conhecimento da prática de genocídio e não comunicou o fato ao secretário dos Direitos Humanos nem à polícia. Seguramente, esse “político famoso” não fez a revelação no confessionário. Se não há segredo de confessionário, o bispo tem o dever de revelar seu nome para que se tomem as providências legais cabíveis e para que a Justiça vá atrás dele, se possível.  

 

    Que se segue daí? Que a pesquisa, o General e o bispo somam-se a quantos pregam todos os dias que os políticos são maus elementos. Que os há entre eles, sem dúvida. Aliás, não é apenas a Lei Eleitoral que impede que os compradores de votos e outros criminosos sejam apanhados nas malhas da lei. É toda a legislação – começando pela lei maior, a Constituição – que garante impunidade àqueles que desonram a carreira política. O problema é que se a Igreja e os militares se juntam para dizer que os políticos não têm caráter e exploram a miséria – além de praticar o genocídio – quem restará para governar o País? Os jovens bem nutridos que depredaram um hotel numa cidade no interior de São Paulo, como que a demonstrar que, por serem parte de uma dita elite, estão acima da lei? Ou os que falam mal dos políticos? Ou quem?

 

 

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